Brasileira, bicha, nordestina, branca, contra-CIS-identificada: doutoranda e Mestra em Letras, pela Universidade Estadual de Santa Cruz (PPGL/UESC). Bacharela em direito (UESC) e advogada (OAB/BA). Bolsista FAPESB. Integrante do grupo de pesquisa O Espaço Biográfico no Horizonte da Literatura Homoerótica (GPBIOH), do Núcleo de Estudos Queer e Decoloniais da UFRPE (NuQueer) e do Grupo de Pesquisa Estudos Literários Contemporâneos: Fontes da Literatura de Jornal da UEFS.
Analiso o funcionamento deimopolítico da masculinidade cis-hétero-bolsonarista como norma de reconhecimento caracterizada não apenas pelo medo da penetrabilidade do ânus, mas profundamente marcada pelo medo de ter um ânus. Busco analisar a produção do medo da existência do ânus como elemento intrínseco à fabricação das supostas ameaças sociais no cis-hétero-bolsonarismo. Por meio de uma metaforização topográfica que localiza/significa os excluídos como o cu do social, o “inimigø” comparece como uma marca da memória anal, fazendo lembrança que o ânus existe. Se existe, pode ser penetrado. Dessa forma, a própria (in)existência do ânus organiza a distribuição diferencial da humanidade nesse regime, pois a condição mínima de ser humano é a de ser homem, isto é, não ter ânus. Condição essa reafirmada por outros marcadores de ausência: não ter vagina, não ter a pele negra, não pertencer às minorias étnicas e religiosas... O cis-hétero-bolsonarismo comporta-se como um engenho anatômico da qual o ânus funciona como um catalisador da reação masculinista. O tubo dérmico é, então, reformatado nesse regime. Com isso, busco mostrar que o medo da existência do ânus é um elemento central da enunciação subjetiva e do reconhecimento fascista nessa comunidade.
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